"O meu pai, Dr. Dantas, tem sido para mim um exemplo da mais profunda honestidade,

da inexistência da ansiedade e da ganância, pelo gosto de ter o que realmente se precisa,

como uma casa espaçosa e um carro novo, aliado à mais absoluta generosidade, além da

crítica mordaz e do humor.

Geraldo Azevedo, um funileiro que um dia foi auxiliar de enfermagem do meu pai, me ensinou a filosofia sertaneja, a religiosidade conselheirista. Com Seu Geraldo aprendi a ser pobre de espírito.

   Amaurílio Nédio, que era carcereiro e um fiel aliado da minha família, me ensinou o outro lado das coisas, a vida em permanente vigília, a amizade testada pelo perigo, o ambiente do bar e da boemia.

Idibaldo Leão me ensinou o trato com as pessoas, com o mato e, através dos seus filhos, com a música popular. Desse saber surgiu a Orquestra Fred Dantas e seus sambas-canções.

João Augusto dos Anjos, um lavrador, e o cego José Rodrigues Gomes me ensinaramas  artes do

reisado, seus versos, como tocar as gaitas e sua realização ritual. Desse saber surgiu o meu

interesse pelo reisado, refletido no mestrado em música, e a aptidão de ser etnomusicólogo. 

               João Sacramento Neto, o Mestre João, me deu a régua e o compasso, me ensinou ler

           música tocar  trombone e bombardino, compor, e fazer parte de uma corporação filarmônica. Isso

          originou a Oficina de Frevos e Dobrados e sua contribuição à Bahia.Na adolescência vivida em Salvador

  nos anos 70, a presença de Carlos Martins e Umberto Moreira foram fundamentais para desenvolver a minha consciência libertária, da canção livre, do apolíneo e do dionisíaco.

Depois que me tornei músico, na vida adulta, tive outros mestres, como os compositores Ernst Widmer e Lindembergue Cardoso, o etnomusicólogo Manuel Veiga, o maestro Vivaldo da Conceição, o saxofonista Paulo Moura, que não só com a música mas também na maneira de levar a vida, me ensinaram e me moldaram.

        Eu não sou ninguém, eu sou essas pessoas. Na música faço somente o que precisa ser

feito. Eu não quero nada, tudo o que tenho feito é pensando nos meus cinco filhos e na

porção de filhos adotivos, filhos da música, que a vida tem agrupado ao meu redor. "